segunda-feira, 9 de agosto de 2010

"Equatorianas"

Por Antônio Carlos Silva Ferreira.

*Administrador e Especialista em Relações Internacionais.
*E-mail: acferreira@atarde.com.br



Equatorianas
Quinze dias de viagem pela República do Equador

No conforto do suave inverno de Salvador, escrevo estas notas com impressões dos meus 15 dias de viagem pela República do Equador em julho passado. O nome “Equatorianas” veio como inspiração do nome “Brasilianas”, que é um programa sobre temas brasileiros, apresentado na TV Brasil pelo jornalista Luís Nassif. Dame tu mano y venga conmigo!

Faz um 21

No Brasil, uma conhecida empresa de telefonia usava o slogan “Faz um 21” para indicar que suas tarifas eram as mais baixas do mercado. No Equador, os preços em geral - transportes, refeições, compras, etc. – são os mais baratos que já paguei, dentre os países que já visitei. Por que isso me fez lembrar o slogan da companhia telefônica? É que na sequência de países por mim visitados, o Equador foi, coincidentemente, o de número 21.

Corazón Partido

A chegada em Quito estava prevista para a noite de 01 de julho, assim, eu assistiria ao jogo Brasil x Holanda, no dia 02/07, já bem acomodado no hotel, depois do café da manhã, uma vez que no Equador o jogo teria início às 09 horas. Acontece que, após duas tentativas de aproximação da pista de pouso do Aeroporto Mariscal Sucre, em Quito, sem sucesso devido ao nevoeiro, o piloto da AeroRepública decidiu regressar a Bogotá, de onde havíamos partido. O vôo foi reprogramado para as 08 e meia da manhã do dia seguinte e o jogo do Brasil começou meia hora depois de termos decolado. Já perto da hora de pousar em Quito, o piloto informou que o Brasil ganhava de 1 a 0. A maioria dos passageiros, que eram não-brasileiros, fez algum barulho de contentamento, eu certamente fui o mais empolgado. Ao desembarcar, ainda no aeroporto, eu pude ver o empate da Holanda e daí em diante o jogo foi acompanhado pelo rádio da van que seguia até o hotel. Para quem está acostumado com jogo na TV, foi dramático acompanhar a derrota do Brasil, sem direito a play nem replay, escutar as 03 cobranças de escanteio consecutivas (“tiro de esquina para Brasil”, na voz do locutor equatoriano) que não renderam gol e um lance de Kaká que o locutor chegou a gritar gol – mas não foi - até que tudo terminou, quando a van estava chegando ao hotel. Sem querer ser melodramático, eu me senti como aquelas mães da Plaza de Mayo, na Argentina, ou as mães dos guerrilheiros do Araguaia no Brasil, cujos filhos foram mortos e elas nunca receberam os corpos para enterrar. Neste caso, eu ouvi o Brasil perder, mas não vi e até hoje aquela derrota me parece mais sonho que realidade.

Locução interessante

Durante a narração do jogo Brasil x Holanda, pela emissora de rádio de Quito, o locutor introduzia propagandas dos patrocinadores, sempre fazendo um link com algum lance do jogo. Quando o Brasil já estava perdendo para a Holanda, ele falou: "O Brasil precisa fazer uma mudança, como fez o Ministério da Saúde (do Equador) e agora milhares de pessoas são beneficiadas com saúde de qualidade".

Avenida dos Vulcões

Viajei de Quito a Cuenca pela rodovia Panamericana Sul, construída no vale entre as seções oriental e ocidental da Cordilheira dos Andes, sobre a antiga rota que fora denominada de Avenida dos Vulcões pelo geógrafo e explorador alemão Alexander Von Humboldt , quando lá esteve pelos idos de 1802. As cidades ao longo da Avenida dos Vulcões são todas bem sinalizadas, com portais que identificam a cidade e trazem algum slogan com apelo turístico.

Pequeno grande Equador

Na viagem terrestre de Quito a Cuenca, cruzei 06 estados do Equador, a saber: Pichincha, Cotopaxi, Tungurahua, Chimborazo, Cañar e Azuay. Bem, isto não chega a ser uma grande façanha se eu explicar que a viagem foi feita em 03 dias, percorrendo cerca de 400 km no total e que o Equador, embora tenha 24 estados , tem mais ou menos a mesma área do estado do Rio Grande do Sul e menos da metade da Bahia. Mas a viagem vale a pena, pois a paisagem é magnífica e há bastante diversidade cultural naquele país.



Boas estradas

Considerando o tamanho do país, a minha amostra de 400 km percorridos me deu a impressão de que as estradas do Equador são muito boas, pois por onde andei estavam em excelente estado. Nos poucos trechos que não estavam boas, viam-se trabalhadores agindo na recuperação do asfalto. Em outros trechos, onde a chuvas castigam o asfalto duramente, o governo está substituindo o asfalto por uma camada grossa de concreto armado, de pelo menos 10 cm. Realmente, estradas de fazer inveja.

Produtos Made in Brazil no Equador

Música - quase não teve um dia em que não ouvi num rádio de carro, ônibus ou nas ruas, uma canção antiga de Roberto Carlos, cantada por ele mesmo, em espanhol ou por outro cantor. Parece que a música do “rei” está com a bola toda por aqui.

Novelas - uma emissora de TV exibia Camino de Índias (Caminho das Índias), outra exibia Xica da Silva, com Taís Araújo beeeem mais jovem.

Ônibus – vi alguns ônibus da fábrica brasileira de carrocerias CAIO, todos com aquela plaqueta “Made in Brazil” na chaparia traseira.

Transporte – em Curitiba há um eficiente sistema de ônibus (RIT – Rede Integrada de Transporte) que funciona como metrô, com as chamadas estações-tubo, criado nos anos 80, pelo prefeito que era arquiteto (Jaime Lerner). No ano 2000, os colombianos copiaram o modelo e implantaram em Bogotá o sistema que lá se chama Transmilênio; por sua vez, em 2004, os equatorianos imitaram os colombianos e implantaram em Quito o que eles chamam de metrobus. De qualquer forma os sistemas da Colômbia e do Equador são inspirados na idéia brasileira. E a Cidade do Salvador anuncia agora que vai copiar o Transmilênio de Bogotá, sem que eu tenha entendido porque não se referem ao projeto original brasileiro.

Coisas do Brasil e do Equador

Tagua/Jarina - no Equador estive numa oficina onde fazem e vendem peças decorativas feitas do que eles chamam de “tagua”, um vegetal oriundo da região amazônica daquele país. Para quem já esteve na região amazônica brasileira, a “tagua” não é novidade pois é simplesmente o que lá em Belém do Pará, por exemplo, se chama de Jarina, conhecida também como “marfim vegetal” , em razão da aparência, da cor e da dureza das peças produzidas com estas sementes.

Carambolas, ora bolas - algumas frutas que vi no Equador são conhecidas no Brasil e têm lá o mesmo nome que têm em outros países hispânicos, vejamos: piña (abacaxi); avocado (abacate); sandia (melancia); melocoton (melão); maracuya (maracujá); guayaba (goiaba); arazá (araçá); mandarina (tangerina); tamarindo (tamarindo). Até aí, sem novidades, pois são frutas sabidamente populares em vários países, mas surpresa mesmo eu tive quando vi carambolas à venda na rua, fruta que acredito não ser conhecida em algumas regiões brasileiras. Perguntei ao vendedor como se chamava aquela fruta no Equador e ele respondeu “carambola”.





Chapéu Panamá

Você sabia que o chapéu de palha conhecido como “Chapéu Panamá” não é feito naquele país da América Central? Pois é, o chapéu Panamá é fabricado no Equador, onde eles o chamam de “sombrero de paja toquilla”, assim como usam também o nome “Panama Hat” para promoção comercial do produto. A razão disto é que o chapéu tornou-se famoso, depois de ter sido utilizado pelo presidente americano Thedore Roosevelt, numa visita ao Canal do Panamá em 1906. Numa oficina de Cuenca pude conhecer o processo de acabamento dos chapéus, fazer com minhas próprias mãos uma parte desse processo e saber que o preço de um chapéu Panamá varia de 15 a 450 dólares.




Busetas Coloridas

As principais cidades do Equador, tais como Quito, são conectadas a outras cidades por meio de ônibus pequenos ou médios que eles chamam de busetas (diminutivo de autobuses). Estes ônibus são exuberantemente coloridos, como se as empresas disputassem qual pintura externa chama mais a atenção.

Economia

Desde março de 2000, o governo do Equador passou a usar o dólar americano como moeda corrente. A moeda nacional, que se chama Sucre, só circula como fracionária, razão pela qual só temos contato com moedas e não cédulas da moeda equatoriana.

Globalização

Conta a história das Relações Internacionais que no apagar das luzes da Guerra Fria e do desmonte da URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas -, a segurança mundial e a bipolaridade abriram espaço, na agenda da ONU, e, por conseguinte, mundial, para temas antes restritos ao interesse de algumas comunidades, tais como meio ambiente; equidade de gêneros e respeito à diversidade. O Equador, como parte da aldeia global, não iria ficar de fora e foram muitos os cartazes e placas que vi espalhados pelas estradas e cidades com campanhas de combate à violência contra mulheres bem como placas tais como: desfrute da paisagem andina; rio é vida, não polua; respeite a fauna; cuide das árvores. E na TV local cheguei a ver a cobertura de uma parada gay, com depoimentos de homossexuais masculinos e femininos contra a homofobia, tal qual se vê no Brasil.

Política

Conversei com um cidadão equatoriano sobre a situação geral e política do país. Ele me disse que houve avanços em infra-estrutura e combate à corrupção com o início da gestão de Rafael Correa em 2007. Contou-me que em 2008 foi feita uma eleição específica para escolher constituintes que iriam elaborar uma nova Carta Magna, enquanto o Congresso permaneceu fechado. Em seguida foi levado a referendo popular a Carta Magna e a assunção das funções legislativas pelos novos constituintes. Havia tanta corrupção entre os parlamentares que o povo adotou a nova constituição e a troca da bancada legislativa.

Caim e Abel

O mesmo cidadão que me falou da política comentou que o Presidente Rafael Correa, cumprindo a nova Carta Magna, havia mandado encerrar todos os contratos do governo com a empresa de um seu irmão. O irmão ficara tão irritado com a medida que passou a fazer campanha contra Rafael Correa e tornara-se seu inimigo.

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