segunda-feira, 26 de julho de 2010

Globo News Painel

Por Camila Gregurincic

Sábado à noite peguei um pouco do programa Globo News Painel e hoje fui procurar os vídeos no site, pois acho bem interessante essa roda de debate que eles sempre fazem. O debate foi: "Qual será a posição do governo brasileiro dianta da crise entre Venezuela e Colômbia?" O programa está dividido em dois vídeos, cada um com 20 minutos pra mais.

domingo, 25 de julho de 2010

"Algo hicimos mal"

Por Camila Gregurincic

(Presidente dos EUA, Obama, e ex-presidente da Costa Rica, Oscar Arias, em aperto de mãos)

Pessoal como ultimamente o assunto América está muito em pauta, resolvi divulgar um discurso do ex-presidente da Costa Rica, Oscar Arias, na 5ª Cúpula das Américas, que recebi por email de uma grande amiga da família. Não tenho muito conhecimento sobre o presidente, muito menos sobre o país, mas achei extremamente contundente o pronunciamento de Arias. O texto é longo, mas vale a pena a leitura. Vou só explicar um pouco antes, onde ele fez o discurso e os países presentes no evento. Obrigada Rosalva!

5ª Cúpula das Américas
Quando: 17 a 19 de abril de 2009
Onde: Capital de Trinidad e Tobago, Port of Spain.
Países: 34 países pertencentes à Organização dos Estados Americanos (OEA), menos Cuba.
O tema principal do encontro foi o de "assegurar o futuro dos cidadãos da América promovendo a properidade humana, a segurança energética e a sustetabilidade ambiental", segundo o documento principal.

"ALGO HICIMOS MAL"

(Oscar Arias foi presidente da Costa Rica no periódo 1986-1990 e voltou a ser eleito presidente em 2006 ficando até maio deste ano,2010, sendo sucedido por Laura Chinchilla.Além disso, em 1987 Arias ganhou o prêmio Nobel da Paz, por iniciar processos de paz na América Central).

"Tenho a impressão de que cada vez que os países caribenhos e latino-americanos se reúnem com o presidente dos Estados Unidos da América, é para pedir-lhe coisas ou para reclamar coisas. Quase sempre, é para culpar os Estados Unidos de nossos males passados, presentes e futuros. Não creio que isso seja de todo justo.

Não podemos esquecer que a América Latina teve universidades antes de que os Estados Unidos criassem Harvard e William & Mary, que são as primeiras universidades desse país. Não podemos esquecer que neste continente, como no mundo inteiro, pelo menos até 1750 todos os americanos eram mais ou menos iguais: todos eram pobres.

Ao aparecer a Revolução Industrial na Inglaterra, outros países sobem nesse vagão: Alemanha, França, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e aqui a Revolução Industrial passou pela América Latina como um cometa, e não nos demos conta. Certamente perdemos a oportunidade.

Há também uma diferença muito grande. Lendo a história da América Latina, comparada com a história dos Estados Unidos, compreende-se que a América Latina não teve um John Winthrop espanhol, nem português, que viesse com a Bíblia em sua mão disposto a construir uma Cidade sobre uma Colina, uma cidade que brilhasse, como foi a pretensão dos peregrinos que chegaram aos Estados Unidos.

Faz 50 anos, o México era mais rico que Portugal. Em 1950, um país como o Brasil tinha uma renda per capita mais elevada que o da Coréia do Sul.

Faz 60 anos, Honduras tinha mais riqueza per capita que Cingapura, e hoje Cingapura - em questão de 35 a 40 anos - é um país com 40.000 dólares de renda anual por habitante. Bem, algo nós, os latino-americanas, fizemos mal.

Que fizemos errado? Nem posso enumerar todas as coisas que fizemos mal. Para começar, temos uma escolaridade de 7 anos. Essa é a escolaridade média da América Latina e não é o caso da maioria dos países asiáticos. Certamente não é o caso de países como Estados Unidos e Canadá, com a melhor educação do mundo, assim como a dos europeus. De cada 10 estudantes que ingressam no nível secundário na América Latina, em alguns países, só um termina esse nível secundário. Há países que têm uma mortalidade infantil de 50 crianças por cada mil, quando a média nos países asiáticos mais avançados é de 8, 9 ou 10.

Nós temos países onde a carga tributária é de 12% do produto interno bruto e não é responsabilidade de ninguém, exceto nossa, que não cobremos dinheiro das pessoas mais ricas dos nossos países. Ninguém tem a culpa disso, a não ser nós mesmos.

Em 1950, cada cidadão norte-americano era quatro vezes mais rico que um cidadão latino-americano. Hoje em dia, um cidadão norte-americana é 10 15 ou 20 vezes mais rico que um latino-americana. Isso não é culpa dos Estados Unidos, é culpa nossa.

No meu pronunciamento desta manhã, me referi a um fato que para mim é grotesco e que somente demonstra que o sistema de valores do século XX, que parece ser o que estamos pondo em prática também no século XXI, é um sistema de valores equivocado. Porque não pode ser que o mundo rico dedique 100 bilhões de dólares para aliviar a pobreza dos 80% da população do mundo "num planeta que tem 2.500 milhões de seres humanos com uma renda de 2 dólares por dia" e que gaste 13 vezes mais (US$1.300.000.000.000) em armas e soldados.

Como disse esta manhã, não pode ser que a América Latina gaste 50 bilhões de dólares por ano em armas e soldados. Eu me pergunto: quem é o nosso inimigo? Nosso inimigo, presidente Correa, desta desigualdade que o Sr. aponta com muita razão, é a falta de educação; é o analfabetismo; é que não gastamos na saúde de nosso povo; que não criamos a infra-estrutura necessária, os caminhos, as estradas, os portos, os aeroportos; que não estamos dedicando os recursos necessários para deter a degradação do meio ambiente; é a desigualdade que temos que nos envergonha realmente; é produto, entre muitas outras coisas, certamente, de que não estamos educando nossos filhos e nossas filhas.

Vá alguém a uma universidade latino-americana e parece que ainda estamos nos anos sessenta, setenta ou oitenta. Parece que nos esquecemos de que em 9 de novembro de 1989 aconteceu algo de muito importante, ao cair o Muro de Berlim, e que o mundo mudou. Temos que aceitar que este é um mundo diferente, e nisso francamente penso que os acadêmicos, que toda gente pensante, que os economistas, que os historiadores, quase todos concordam que o século XXI é um século dos asiáticos, não dos latino-americanas. E eu, lamentavelmente, concordo com eles. Porque enquanto nós continuamos discutindo sobre ideologias, continuamos discutindo sobre todos os "ismos" (qual é o melhor? capitalismo, socialismo, comunismo, liberalismo, neoliberalismo, socialcristianismo...) os asiáticos encontraram um "ismo" muito realista para o século XXI e o final do século XX, que é o *pragmatismo*. Para só citar um exemplo, recordemos que quando Deng Xiaoping visitou Cingapura e a Coréia do Sul, depois de ter-se dado conta de que seus próprios vizinhos estavam enriquecendo de uma maneira muito acelerada, regressou a Pequim e disse aos velhos camaradas maoístas que o haviam acompanhado na Grande Marcha: "Bem, a verdade, queridos camaradas, é que a mim não importa se o gato é branco ou negro, só o que me interessa é que cace ratos". E se Mao estivesse vivo, teria morrido de novo quando Deng disse que "a verdade é que enriquecer é glorioso". E enquanto os chineses fazem isso, e desde 1979 até hoje crescem a 11%, 12% ou 13% ao ano, e tiraram 300 milhões de habitantes da pobreza, nós continuamos discutindo sobre ideologias que devíamos ter enterrado há muito tempo.

A boa notícia é que isto Deng Xiaoping só conseguiu quando tinha 74 anos.

Olhando em volta, queridos presidentes, não vejo ninguém que esteja perto dos 74 anos. Por isso só lhes peço que não esperemos completá-los para fazer as mudanças que temos que fazer.

Muchas gracias"

sábado, 24 de julho de 2010

Análise de Arnaldo Jabor

Por Camila Gregurincic

Neste sábado, 24, o crítico e escritor Arnaldo Jabor comentou o rompimento de relações entre Venezuela e Colômbia. Ele disse que isso é a "repetição de um mesmo truque que os países com ditadores fazem para esconder suas mazelas".

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Socialismo do século XXI?

Por Camila Gregurincic


Não satisfeito com a provocação, na Assembléia Geral da ONU em 2006, com o ex-presidente americano, George W. Bush, quando Chávez referiu-se a este como "Diabo", o presidente venezuelano, Hugo Chávez, tornar-se-á debate sobre sua atitude anti-diplomática atual.

Após acusações de que o país venezuelano abriga acampamentos de guerrilheiros colombianos, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, rompeu relações com a Colômbia, nesta quinta-feira(22).

"Hay que preparar la ruptura de Relaciones, Nicolás. Eso va a ocurrir", dijo Hugo Chávez. "Vayámonos preparándonos. Porque esa burguesía colombiana nos odia. Y ya no hay aquí posibilidad de retorno, o de un abrazo. Es imposible". (Nicolás Maduro é um chanceler venezuelano)
"El Estado colombiano no está interesado para nada que se acabe el narcotráfico", advirtió el presidente venezolano, agregando que poderosos sectores dentro de ese gobierno viven de esa industria ilegal. "Eso es un narco-estado. Es una narco-economía. Es una verdad y en cifras se puede demostrar", dijo, recordando que, incluso, un tristemente célebre narcotraficante colombiano, Pablo Escobar, aseguró en su momento que si eran "perdonados" todos sus pecados. él pagaba la deuda externa de Colombia.

Esses trechos são palavras de Hugo Chávez no Palácio de Miraflores. Único comentário que concordo é o de narco-estado, até um pouco engraçado, mas é a pura realidade colombiana...um país que gira em torno do narcotráfico, que tem ajuda dos EUA, ponto criticado por Chávez também. Mas vejo o narcotráfico como uma faca de dois gumes, pois trata-se de um mercado riquíssimo. Além disso, ao mesmo tempo que os Estados Unidos gasta para combater, o país norte-americano é considerado o maior consumidor de Cocaína...

Recentemente, foi eleito um novo presidente colombiano, Juan Manuel Santos, que toma posse da Presidência em 7 de agosto. O país colombiano até então, é governado por Álvaro Uribe, considerado um controvertido legado num período de oito anos. Um aspecto que devemos analisar é a forma de governo de Santos e Uribe. Santos tende a ser mais conciliador (buscar acordos, negociar) que o atual mandatário. Como li em alguns artigos, Uribe gosta mais de confrontação.

“Para a analista política Laura Gil, Santos buscará uma reaproximação com o Brasil. "As relações diplomáticas foram muito afetadas, mas acredito que o governo e Santos entenderam que Brasil é um aliado muito importante, do qual não se pode afastar", afirmou.
Para Gil, Santos continuará sendo o principal aliado dos Estados Unidos na região, mas ao mesmo tempo buscará uma zona de distensão com os vizinhos, de olho em promover um isolamento do presidente venezuelano Hugo Chávez.
"A relação privilegiada com Estados Unidos continuará, mas haverá uma tentativa de aproximação com a América Latina. Santos tentará fortalecer esses laços para isolar Chávez", afirmou Gil.”


Trecho retirado do site: http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,era-uribe-continua-com-vitoria-de-santos-na-colombia-dizem-analistas,569533,0.htm

Juan Manuel Santos e Álvaro Uribe preferem manter silêncio em relação à atitude de Hugo Chávez, mas o novo governo pretende ter uma boa relação com o país venezuelano e com todos os países da região. Acredito que Santos siga um governo mais diplomático. Vemos essa característica no governo de Obama e Lula...

Essa atitude de Chávez não é alarmante, mas preocupa a todos, principalmente os países latinos americanos e membros do Mercosul. Acho o assunto bem polêmico. Chávez vem seguindo uma política nada normal, com ideais bolivarianos, sem conceito nenhum de soberania e impondo uma política de governo e não de Estado. Acho complicado entender sua forma de governo, ao mesmo tempo, há características notáveis de um ditador. Acredito que para entendermos bem sua política devemos olhar para séculos passados e analisar a era de Simon Bolívar... Antes os países brigavam para se emanciparem, e agora?

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Quebec: Um novo país para o mundo?

Por Camila Gregurincic

Pessoal eu recebi um email muito interessante do Antônio Carlos Silva Ferreira, elogiando o último post que fiz sobre a questão separatista da Bélgica. Além disso, conversamos sobre a sua viagem ao Canadá e a questão separatista que lá se encontra também. Todo o texto e as fotos são de autoria dele. Muito obrigada Antônio! Espero que gostem...

QUEBEC: Um novo país para o mundo?
Por Antônio Carlos Silva Ferreira


Estive no Canadá no verão de 1997 e, como os livros de Geografia haviam me ensinado que aquela era uma nação bilíngüe, eu estava curioso para ver como era um país onde todo mundo falava inglês e francês. Conheci cidades de 03 diferentes províncias, que é como eles chamam os estados: na costa oeste, Vancouver e Victoria na província de British Columbia e no leste visitei Toronto, Ottawa, Niagara Falls e London na província de Ontario; Quebec e Montreal na província de Quebec. Na prática não vi um pais tão bilíngue assim, pois nas províncias de British Columbia e Ontario predomina o inglês. Em Ottawa, por ser a capital do país e ter a obrigação de dar exemplo, nota-se as duas línguas até nas placas das ruas, mas ainda tenho a impressão que lá as pessoas falam mais inglês que francês. Finalmente, na província de Quebec é perceptível a predominância do francês.

Em setembro de 2009, voltei de férias ao Canadá para aprimorar o meu francês incipiente, naqueles esquemas de curso intensivo numa escola para estrangeiros e hospedagem numa casa de família local. Desta vez, minha permanência por 30 dias vivendo em Montreal me deu a oportunidade de conviver um pouco com a cultura quebequense e compreender melhor o que está por trás da questão bilíngue do Canadá.

Segundo me falaram, as leis locais obrigam a que, nas lojas, restaurantes e demais estabelecimentos comerciais o atendimento seja bilíngue e era comum ser recebido pelo vendedor, numa loja, com um “Bonjour...Hi”, para que eu escolhesse em que língua gostaria de ser atendido. Os letreiros nas ruas, as conversas das pessoas no metrô e nos ônibus ocorre mais em francês, algumas poucas vezes escutei diálogos em inglês, o que não é de se estranhar numa metrópole de pouco mais de 3 milhões de habitantes, onde chegam imigrantes e viajantes, a lazer e negócios, de várias partes do mundo.

A história da formação do estado canadense nos conta que ingleses e franceses colonizaram o território e lá pelo século XVIII, ao final da Guerra dos Sete Anos, por meio de acordos firmados pelo Tratado de Paris, a França abdicou da sua parte do Canadá em favor dos ingleses. Desde a colonização, a região às margens do Rio São Lourenço, onde estão Montreal e a cidade de Quebec, era ocupada pelos franceses. Já no século XIX uma invasão americana com objetivos expansionistas fez com que as províncias canadenses se unissem numa confederação que os protegesse de uma segunda tentativa. Quando da Primeira Guerra Mundial o Canadá se alia aos britânicos, gerando uma divergência doméstica vez que os canadenses de origem francesa, diferentemente dos de origem inglesa, não eram a favor de entrar na guerra. À essa época o Canadá ainda sofria forte influência política da coroa britânica, o que não agradava aos canadenses francófonos.

Somente em 1969 o francês é também instituído como língua oficial do Canadá, certamente numa tentativa de apaziguar os ânimos e manter a confederação. Em 1977 o francês se torna a língua oficial da província de Quebec. Em 1980 e em 1995 houve plebiscitos para decidir a independência do Quebec, mas os votos a favor não foram suficientes para o êxito. Em 1997, a Suprema Corte do Canadá julgou que a secessão unilateral de uma província canadense é inconstitucional, criando mais um obstáculo ao anseio quebequense. Não obstante, os franceses do Quebec mantêm vivo o desejo de independência e o chamado movimento soberanista permanece vivo e atuante.

O movimento acusa o governo federal canadense de fazer uso do termo soberanista (souverainiste, em francês) para fazer média com o eleitorado francófono e do termo separatista (separatist, em inglês), para dar uma conotação negativa ao projeto. Alegam os partidários do movimento soberanista que, embora não sejam contrários ao federalismo, não há como reformar o sistema federal do Canadá de modo a compatibilizar a necessidade de centralização dos anglófonos e a necessidade de autonomia política do Quebec.




No meu dia-a-dia em Montreal, notei muitas bandeiras do Quebec em varandas de residência, em contraponto às bandeiras do Canadá nos prédios públicos e pontos turísticos. Passando em frente a um condomínio de apartamentos para aposentados, observei uma grande quantidade de varandas com bandeiras do Quebec elegantemente estendidas e voltadas para a rua. Certamente os mais idosos são defensores enfáticos da soberania do Quebec, mas mesmo entre algumas pessoas mais jovens com quem falei percebi o mesmo sentimento. Uma delas sempre fazia questão de se dizer quebequense e não canadense e se referia ao Quebec como um país de francófonos, inclusive, considerava os anglófonos do Quebec como membros de uma colônia e não como população nativa. Outra pessoa contou-me que se sentia quebequense antes de sentir-se canadense e que acreditava que os resultados do último plebiscito não foram favoráveis em razão do grande número de imigrantes com direito de voto que não tem o mesmo sentimento de pertencimento dos quebequenses e se consideram simplesmente canadenses. Sendo o segundo maior país do mundo em extensão territorial e com apenas 32 milhões de habitantes, o Canadá, de fato, tem uma política de incentivo à imigração, e é notório que a província de Quebec empreende uma forte campanha de atração de imigrantes, por meio da paradiplomacia, ou seja, à parte do aparato diplomático federal.

Ainda no terreno político, o governo federal reconhece a Rainha da Inglaterra como Chefe de Estado do Canadá, representada no país por um Governador-Geral, o que é uma tradição nas ex-colônias britânicas que hoje integram o que eles denominam de comunidade de nações (Commonwealth of Nations). Na prática, a rainha e seu representante são figuras simbólicas sem real interferência política nos desígnios do país, mas os francófonos, que nunca foram súditos da coroa britânica, não são favoráveis à manutenção desse status.

Ao que me parece a luta dos quebequenses por independência tem como origens os laços culturais e linguísticos que unem os francófonos do Canadá, talvez mais que razões econômicas, geopolíticas, estratégicas, etc. Isto me faz lembrar duas outras viagens que me fizeram questionar se a soberania e independência de um povo é sempre a melhor opção para o desenvolvimento e qualidade de vida de sua população. No primeiro caso, em abril de 2000, numa viagem a Chicago, peguei um táxi e, em conversa com o motorista, que falava inglês com sotaque, perguntei-lhe de onde ele era. Apontando orgulhosamente uma bandeirinha vermelha, azul e verde, ele me disse ser da Eritréia. Curioso, busquei saber que país era aquele do qual nunca ouvira falar e descobri que a Eritréia é um país africano que se tornou independente da Etiópia, em 1991, depois de 30 anos de luta. A Eritréia tem cerca de 10% do território da Etiópia, pouco mais de 6% da população daquele país e, antes da independência, era a única porção de terra da Etiópia banhada pelo mar. Ambos os países têm baixa expectativa de vida, índice de desenvolvimento humano baixíssimo e economias fraquíssimas. Hoje são dois países independentes, cada um com seu presidente, bandeira, símbolos nacionais, mas afora isso, o que a guerra e a divisão trouxeram de concreto foi a divisão da miséria em duas nações.
O segundo caso eu vim a conhecer em 2006, numa viagem a Aruba. Aquela famosa ilha do Caribe teve a opção de se tornar independente da Holanda, mas a sua população preferiu ser um território autônomo. Isto significa que Aruba tem bandeira, hino, símbolos nacionais e moeda própria, um primeiro-ministro eleito pela população e um governador-geral que representa a rainha da Holanda. Os assuntos de política interna são resolvidos no âmbito do próprio país, mas a Suprema Corte, a defesa (Aruba não tem forças armadas) e o passaporte são holandeses. Com cerca de 1,5 vezes o território da Eritréia e apenas 2% da população daquela nação africana, o que Aruba ganhou com a não independência total foram todas as benesses de uma nação desenvolvida como a Holanda. Em conversa com moradores locais, eles me diziam que lá todos têm casa, emprego, segurança e boa qualidade de vida. Como o país foi sucessivamente dominado por espanhóis, ingleses e por fim, holandeses, a população, além de falar o dialeto local (papiamento), aprende, na escola pública, a falar inglês, espanhol e holandês. Diferentemente do Canadá, Aruba é um país de fato multilíngue onde, em vários lugares em que estive, a conversa se iniciava em espanhol e terminava em inglês ou vice-versa porque os nativos, por vezes, queriam agradar, mas ficavam na dúvida se eu vinha de algum país sul-americano ou da América do Norte. Próxima da linha do Equador e, portanto, ensolarada praticamente o ano todo, Aruba vive do turismo, tem aeroporto internacional, excelente infra-estrutura e, embora não tenha nenhuma fonte de água potável, a água retirada do mar e dessalinizada pode ser bebida diretamente da torneira, como em qualquer país desenvolvido. Dito isto, fica fácil entender porque todas as placas de carro da ilha tem a frase “Aruba. One Happy Island”.


De volta à questão do Quebec, embora a região não guarde semelhanças com Aruba, muito menos com a Eritréia, questiono-me se a independência é a melhor opção e diversas indagações afloram à minha mente:


Língua - um dos pilares de afirmação do movimento separatista do Quebec é a língua, mas é visível como o francês quebequense se distanciou do francês da França e está impregnado de neologismos oriundos da língua inglesa, possivelmente influência da população anglófona do Quebec. Tanto assim que, na escola que frequentei, eles faziam questão de explicar que ensinavam o francês “internacional” ou “standard”, já que alguns alunos se queixavam de que, mesmo aprendendo francês, tinham dificuldades em entender a conversa dos cidadãos quebequenses nas ruas.

Defesa – que percentual do orçamento da nova nação seria destinado à defesa em detrimento de outras necessidades? Ou, a exemplo de Aruba, cuja defesa é garantida pela Holanda, o Quebec dependeria do Canadá para fazer a sua defesa?

Espírito Nacionalista - se, conforme alguém me disse, os imigrantes se sentem canadenses e não exclusivamente quebequenses, até que ponto a soberania do Quebec atende aos anseios da população atual da região que é formada não só por francófonos, mas por um significativo contingente de anglófonos e imigrantes?

Economia - a população total do Canadá é insuficiente para o país e a política de incentivo à imigração do Quebec deixa transparecer que lá também falta gente. Com uma população de cerca de 7 milhões de pessoas, seria a economia do Quebec suficientemente pujante para promover o desenvolvimento sustentável do país?

Enquanto estive no Canadá, a imprensa anunciou que a Irlanda havia aprovado, em plebiscito, o Tratado de Lisboa que promove alterações na Constituição da União Européia. O fato é relevante porque, em junho de 2008, a mesma Irlanda havia rejeitado o tratado com receio de que as alterações previstas minassem a condição de neutralidade e soberania do país. Especialistas afirmam que a mudança de opinião, pouco mais de um ano depois, deve-se à crise financeira que se abateu sobre o mundo em fins do ano passado, que atingiu também a economia daquele país, antes apelidado de Tigre Celta, pela sua crescente força econômica. Fatos como esse e a própria criação da zona do Euro, assim como outras iniciativas de criação de blocos econômicos que implicam na formação de alianças entre países que abdicam de parte da sua soberania em função da união que faz a força, parecem apontar uma tendência em direção contrária à pretendida pelo Quebec.

São várias interrogações, sem dúvida. O meu objetivo pessoal de conseguir aprimorar o francês, em Montreal, foi atingido. Quanto a essa decisão de tornar ou não o Quebec um novo país para o mundo, penso que é um bom exercício para os canadenses, especialmente para os quebequenses. Que sejam bem sucedidos, qualquer que seja a escolha.

Antônio Carlos Silva Ferreira é administrador pela UCSal e Especialista em Relações Internacionais pela UFBA.

* Email para contato: acferreira@atarde.com.br

domingo, 4 de julho de 2010

8º Congresso Brasileiro de Direito Internacional

Por Camila Gregurincic

Pessoal estou divulgando o congresso que acontece em agosto em Foz do Iguaçú, o qual acho de grande importância pra nossa área.
A inscrição até 15/08/2010 para estudantes custa R$: 100,00
Para maiores informações e os interessados em fazer a inscrição : www.direitointernacional.org/congresso.php